É, de facto, a marca de Paris, entre outras que a acompanham, apesar de não menos importantes. A Torre Eiffel ajudou a estabelecer a identidade de uma cidade e de um país activo na história mundial. Quem acreditaria que esta obra terá sido mal amada, de tal modo que a sua demolição esteve prevista?
Hoje, para os parisienses, é, no mínimo, inesperado pensar-se em demolir esta torre. Assim como terá sido inesperado, em finais do século XIX, pensar-se em manter a obra erigida. Tempos diferentes, contextos históricos distintos, no mesmo espaço de hoje. Perante isto, como poderemos pensar os nossos gestos actuais como, fatalmente, limitados no tempo e no espaço?
Esta Torre foi construída para a Exposição Universal de 1889, em Paris, igualmente, ano de centenário da Revolução Francesa, outro marco da história política e social contemporânea europeia, pelo menos. Gustave Eiffel foi o arquitecto que apresentou o projecto, primeiramente, à cidade de Barcelona, sem que houvesse seguimento aqui. Tal como a Revolução Francesa, as linhas arquitectónicas e de construção da Torre foram revolucionárias, para a época. A Exposição foi um sucesso mas diversas vozes, mais do que uma vez, incentivaram a demolição da Torre. E este poderá ser um exemplo da imprevisibilidade do impacto futuro de uma obra que, com o decorrer do tempo, vai deixando de ser vista pelos parisienses de finais do século XIX para passar a ser vista pelos cidadãos dos anos 30 do século XX, dos anos 70, de inícios do século XXI, etc. Aliás, como em todas as obras que perduram no tempo.
Demorou cerca de 2 anos a ser construída e, curiosamente, foi inaugurada por aquele que viria a ser o futuro rei Eduardo VII da Inglaterra. É uma Torre que, até 1930, permaneceu como a Torre mais alta do mundo, destronando a Pirâmide de Quéops, no Egipto, com 138 metros de altura. Em idade, esta teria já quase 5 000 anos de existência...
Parte dos homens da cultura parisiense não ficaram convencidos com a construção, em aço, de cerca de 300 pés de altura, mais de 7 500 toneladas (contando com as toneladas de tinta), 15 000 peças de aço e 1 652 degraus até ao topo da Torre. Terá sido assinado um contrato de cerca de 20 anos de permanência no terreno da Exposição Universal, acabando por expirar em 1909.
Após a exposição do que se pretenderia que fosse inovador, interessante ou megalómano numa cidade, com o contrato a entrar no seu termo, muitos consideraram a Torre descontextualizada e contrária ao bom gosto francês da altura. Ainda assim, o facto de poder servir como antena de transmissão de rádio, juntamente com a diplomacia e a reputação de Gustave Eiffel (talvez também pela rentabilidade que o edifício começou a ter em bilheteiras, para benefício da Câmara Municipal), evitaram o pior e, por muitos, a quase certa demolição.
Recebe milhões de turistas por ano. É um dos monumentos mais visitados do mundo, assim como a propria cidade. Terá sido, igualmente, "vendida", a Torre, por Victor Lustig, um vigarista profissional, a um sucateiro. Certa é a consagração deste edifício pela própria história, após dar-se uma oportunidade para que não fosse demolida. Hoje, é muito mais do que a Torre Eiffel de 1889, não deixando de ser a mesma construção, apesar de restaurada em 1986/87.
E se os gestos que não se concretizaram mas que tivéssemos previsto realizar, na nossa vida, se se realizassem mesmo, que outra história seria a nossa?
FONTE: http://lounge.obviousmag.org
0 comentários:
Postar um comentário